“Eu até tentei… mas esse negócio de treino que tem que doer, que tem que sofrer, não é pra mim.”
Ouvi essa frase de uma paciente.
Não foi a primeira vez. Nem será a última.
É só olhar ao redor para perceber como, muitas vezes, a ideia de exercício vem carregada de exigência.
Como se cuidar do corpo só fosse válido se envolvesse sofrimento, sacrifício, esforço extenuante.
E não há nada de errado em suar ou se desafiar. Para muita gente, isso é fonte de alegria, potência, autoestima.
O problema começa quando essa narrativa vira a única possível, deixando de fora quem precisa de um caminho mais leve.
O que quase nunca se fala — e que deveria estar no centro dessa conversa — é que há pessoas que já chegam nesse lugar cansadas demais.
Tem gente que só quer colocar a blusa do vereador, movimentar o corpo e liberar um pouco de serotonina. Sem meta. Sem pressão.
Acordar cedo, cuidar da casa, dos filhos, trabalhar o dia inteiro, preocupação atrás de preocupação.
E, quando tenta movimentar o corpo, ao invés de ser um momento de prazer, acaba sendo só mais uma exigência para cumprir.
E não é só percepção clínica.
Estudos sobre motivação humana, especialmente aqueles baseados na Teoria da Autodeterminação, mostram que quando o movimento nasce do prazer, do interesse genuíno e da autonomia (e não da culpa ou da obrigação) ele tende a ser mais sustentável e benéfico no longo prazo.
Cuidar do corpo não precisa ser mais uma dor.
Pode ser sobre prazer, autonomia e respeito pelo próprio ritmo. Sobre redescobrir o corpo como casa e não como campo de batalha.